Excerto de conversas, perguntas e respostas dadas desde 2008.
A preparação prevista é a que consideramos ser mais eficaz no contexto das cerimónias – é específica da nossa organização.
Alguns elementos apresentam uma energia densa e devem ser eliminados – carnes vermelhas, charcutaria, porco, alcool, especiarias fortes, açúcar. A planta trabalha no fígado e é importante que este não esteja sobrecarregado. Os alimentos industriais também pesam sobre o corpo energético.
A diminuição do sal visa abrir o corpo energético para o trabalho e receptividade.
O consumo de outras plantas psicotrópicas pode interferir com os efeitos, provocar um bloqueio ou mesmo um choque. Por uma questão de respeito, pedimos um intervalo de 15 dias entre cerimónias com diferentes plantas psicotrópicas (peyotl, san pedro, iboga). Os efeitos negativos afectam não só o participante como as outras pessoas presentes. Leia aqui um artigo sobre a Marijuana.
A menstruação corresponde a um período de purga natural de que beneficiam as mulheres naturalmente – e felizmente. Fazer uma cerimónia nos três primeiros dias não seria benéfico para ela nem para os presentes.
Alguns medicamentos anti-depressivos devem ser interrompidos uma ou duas semanas antes do seminário, por precaução.
Recomendamos a leitura do documento “Ayahuasca toxicity”, pelo Dr. Jacques Mabit (em inglês).
A abstinência sexual é recomendada para concentrar a energia no trabalho interior. Trata-se de uma perturbação forte do corpo físico energético à semelhança de um desporto violento, uma noite na discoteca, uma sessão de reiki, sauna, etc. A toma de Madre abre o campo energético durante o retiro, por isso ter relações durante a estadia seria uma forma de incorporar as cargas de outra pessoa – as que ela está a limpar no processo – e gastar as energias que se poderiam acumular para o processo pessoal. Assim, não é boa ideia usar a energia sexual, e por razões muito concretas, não por uma questão moral ou religiosa.
Consulte aqui a dieta de preparação.
Realizamos purgas de Tabaco e outras plantas, de forma ritualizada (o efeito pretendido não é apenas físico, daí o ritual). Durante as dietas administramos Plantas Maestras adaptadas à problemática.
Algumas pessoas vêm apenas fazer as purgas.
Existe uma dose normal, mas cada corpo é diferente. É preciso adaptar o copo da Madre. O ideal é ter efeitos suficientes para concentrar-se no trabalho, mas não um excesso que faria perder o controlo do corpo. Os efeitos são também regulados pelos curandeiros e dependem do histórico de cada participante. Geralmente propõe-se um segundo copo ao longo da sessão.
No final de um retiro, com a acumulação de tomas, o paciente precisará de doses cada vez menores. A bebida não é em caso algum aditiva.
Os casos são raros e muitas vezes associados a uma má preparação alimentar ou outra, a perturbações psicóticas ou ainda um consumo excessiva de plantas psicotrópicas fora de um contexto ritualizado e sagrado (iniciação às plantas em dieta, xamã bem preparado segundo o processo tradicional, etc.).
Pode acontecer um desmaio momentâneo devido a uma carga emocional forte que não podemos enfrentar. Esta situação é facilmente corrigida pela intervenção do xamã.
Por vezes algumas pessoas perdem as estribeiras e o xamã deve intervir rapidamente. É importante ler com cuidado os documentos de recomendação e preparação enviados aquando da inscrição. O comportamento durante a sessão é muito importante para a segurança do grupo – e mesmo que a pessoa pense não poder controlar-se, pode fazê-lo em 80% dos casos.
É normal ter uma certa apreensão. Fale aos xamãs dos seus medos. A maior parte dos presentes estão ansiosos na primeira noite. As coisas começam suavemente, com uma primeira conexão, e os xamãs estão disponíveis para apoiar.
Se não se sentir bem, pode chamá-los porque estes podem ajudar com uma equilibragem energética pontual. A primeira vez é sempre com uma dose reduzida, com a possibilidade de vir beber de novo. O mais importante é estar descontraído e concentrar-se na respiração.
A “purga” é um dos nomes que se dão à planta. É ela que escolhe a forma de purificar o corpo (físico, emocional, psíquico, espiritual). Por vezes, escolhe ficar mais tempo. Acontece não vomitar, mas ter uma purga intestinal na casa de banho, mais tarde. Em caso algum se deve colocar o dedo na garganta ou beber grandes quantidades de água para forçar a planta a sair. Às vezes basta beber mais um golo de Madre para desencadear o processo.
Quando se vomita logo no início, pode tratar-se de uma rejeição da planta, provocada por medos ou inseguranças. A purga vem demasiado cedo e o participante está na verdade a evitar fazer um trabalho pessoal, de forma consciente ou não.
A purga pode surgir espontaneamente quando estamos disponíveis. Há por vezes um confronto entre a resistência do paciente e a força da planta, o que torna o processo mais difícil e a náusea prolongada. A quantidade da purga é frequentemente superior ao copo ingerido, e é aqui que o efeito de limpeza geral é mais importante, com um efeito de cura correspondente.
Quando se fazem dietas de plantas, a purga é mais rara, porque a Madre trabalha num nível mais subtil. Os curandeiros mais experientes vomitam raramente. A Ayahuasca é tóxica para corpos intoxicados.
Existe geralmente uma sensação de bem-estar depois de uma boa limpeza. Quando o processo está incompleto, é necessário integrar os efeitos da planta, e isso pode demorar algum tempo, após uma boa noite de sono. É por isso que há diferenças no estado de humor para cada participante.
Para integrar os efeitos de um retiro, é importante continuar o regime alimentar recomendado durante alguns dias. Comer com sal, mas evitar o açúcar, carnes vermelhas, alcool e outras plantas psicotrópicas.
A sessão de partilha ou entrevista final com os xamãs é essencial para integrar o processo, bem como o contacto por email e testemunho, passado uma ou duas semanas.
Para as pessoas que vêm sem nenhuma intenção específica, para um “trip”, pouco enraizadas e reticentes em enfrentar o seu mundo interior, a planta pode ser um desafio. As nossas sessões implicam uma disponibilidade para o trabalho interior, com vista a alcançar resultados. O processo de purga é mais importante do que as visões.
Alguns participantes resistem à “limpeza”. Quando o xamã trabalha, é como se entrasse numa casa. Ao princípio areja, faz uma limpeza geral. Com o tempo entrará na cozinha, subirá para os quartos, e mesmo para o sótão… Começa pelo aspirador, depois trata dos pormenores. Se o participante resiste, é mais difícil interferir no seu campo energético.
Certas pessoas questionam-se sobre o facto da “limpeza” afectar a sua identidade profunda. É frequente agarrar-nos a elementos da nossa vida. No início da sessão, os participantes entram de alguma forma num “barco”. Alguns remam com os xamãs, outros saltam do barco ou querem voltar ao ponto de partida. No final, todos chegaremos à outra margem, atravessando a tempestade. A resistência torna as coisas mais difíceis.
É importante perceber que o trabalho das plantas não consiste em apagar memórias, por exemplo, mas tratar uma ferida emocional que pode estar associada a essa memória, algo reprimido ou estagnado. Voltamos a aceder a essa memória, mas como um facto que lemos no jornal, sem o desespero, trauma ou raiva que acompanhava algum acontecimento dramático. Para tal, é preciso atravessar momentos da nossa vida, com o apoio da planta e dos xamãs. É necessário ver o que há no sótão da memória, acender a luz nesse local, não tanto para eliminar, mas para iluminar, trazer para a luz e consciência.
Da mesma forma, abrir o coração significa ver o que lá está, todas as feridas cristalizadas que podemos escolher guardar ou largar, mantendo os ensinamentos e lições dessa experiência de vida.
Todos esses elementos fazem parte da nossa identidade, ajudaram a construir-nos como indivíduos, mas elementos inúteis, como os ressentimentos, podem ser processados.
A planta trabalha muito bem em grupo, no entanto permite uma abordagem personalizada e adaptada a cada um.
Todos temos energias em comum. O processo de outra pessoa acaba por trazer à consciência elementos pessoais: apesar das intenções pessoais para um retiro, todos sentimos num certo grau problemas de auto-estima, desgostos amorosos, decepções, tristeza. Assim, os temas levantados acabam por dizer respeito a cada um. Nas sessões de partilha, verifica-se com frequência que as mensagens recebidas por um participante reflectem na verdade uma questão colectiva.
Quando a planta provoca uma purga ou alguém vomita na sala, pode ser útil concentrar-se em questões pessoais a “limpar”. Mas será apenas quando houve uma consciência de questões interiores e processos de integração, perdão, reconciliação, aceitação, etc., que a planta poderá extrair o assunto sob uma forma física de expulsão. Quando o participante está muito concentrado no exterior, no que se passa à sua volta, isso pode reflectir uma tendência, na vida, em procurar sempre o inimigo no exterior.
As situações vividas ao longo da cerimónia são antes de mais o reflexo de um estado interior. Descobrem-se assim mecanismos de auto-sabotagem para evitar um confronto consigo próprio. O “inimigo” mais poderoso e o que melhor conhece a casa é aquele que está no interior. Essa consciência permite descobrir as portas que se deixaram abertas a emoções tóxicas, constatar as que nos servem e as que dificultam a vida quotidiana.
As formas da planta trabalhar são inúmeras e tantas quanto os participantes. Algumas pessoas são visionárias, outras sentem uma comunicação, um diálogo interior. Antes de atravessar a experiência, é difícil perceber que a planta tem uma consciência e está a comunicar. Existem também vários níveis de profundidade numa cerimónia. Algumas mensagens podem vir do ego, e é com a experiência que separamos o trigo do joio. É preciso alguma paciência e evitar expectativas. O que sucedeu ao vizinho não é necessariamente o que nos vai acontecer.
A primeira sessão é um contacto inicial, a descoberta dos xamãs, dos efeitos da planta, antes de começar um trabalho mais profundo. O processo respeita o indivíduo e tudo depende da sua capacidade para estar centrado, do seu historial, práticas de trabalho pessoal, intenções, etc. Todos são actores do seu processo, e não apenas espectadores. Com honestidade e de coração aberto e sincero, o participante não será um turista no mundo espiritual .
Tradicionalmente, muitos pacientes participavam em cerimónias sem beber, recebendo apenas os ícaros. Como num centro de saúde, os indígenas da aldeia procuravam o curandeiro.
É possível receber o canto sem beber: existem ícaros para a febre, problemas gástricos, gripe, etc. O curandeiro adquire uma vibração especial através do seu percurso de aprendizagem numa Dieta, período de isolamento em que consomem plantas maestras que lhe ensinam a diagnosticar maleitas e tratar.
No entanto, o trabalho energético torna-se mais fácil quando se ingere a Ayahuasca, porque a planta “abre” o corpo do participante e permite ao ícaro, que é em si uma estrutura energética, entrar e intervir como uma espécie de alta tecnologia biológica molecular. As informações transmitidas e conteúdos visionários simbólicos são um material rico para perceber e integrar o trabalho. A dose da planta não precisa de ser abundante para obter resultados.
A Madre é um revelador. Limpa, revela um estado interior, as energias presentes, e dá indicações sobre as mudanças a efectuar. Poderá sugerir um tratamento com outras plantas. Para certas pessoas, as cerimónias bastam, permitem trazer para a consciência aspectos a tratar. Para outros casos, a dieta é recomendada e indispensável. Algumas pessoas fazem mesmo o processo de dieta todos os anos, sem nunca frequentar cerimónias de fim de semana.
As dietas funcionam num contexto mais restrito. Existem alguns dias de isolamento, com contacto social mínimo, a alimentação é simples e sem sabor. As plantas maestras ingeridas, especialistas, levantam conteúdos oníricos, revelando em sonhos aspectos desconhecidos de si próprio. O trabalho é mais profundo e os efeitos duradouros. Enquanto num fim de semana o processo assemelha-se a uma terapia de choque, é frequente que os participantes voltem a cair nas rotinas do velho Eu. Num processo como a dieta, alguns problemas ficam resolvidos de vez.
Cada planta de dieta aborda o trabalho numa perspectiva diferente. algumas trabalham na abertura do coração, gestão da raiva, memórias afectivas… Existem benefícios físicos associados às características da planta, como a flexibilidade, força, resistências, etc., que se transmitem a nível psicológico na expressão, rectidão, força de vontade, tomada de decisões, coragem, etc. Num retiro mais longo também se podem realizar vomitivos adaptados às necessidades : adições, excesso de pensamentos, bloqueios…
As três formas de trabalhar – cerimónias, dietas, purgas – são complementares. O processo funciona como uma cebola, em que se acedem a diferentes camadas. A dieta é o nível mais profundo de trabalho com estas plantas.
A planta é um veículo específico que exige um conjunto de regras e um ritual para funcionar, já que se trata de uma cura ao nível dos diferentes corpos energéticos. A aprendizagem destas técnicas realiza-se numa dieta e através do corpo do curandeiro que disponibiliza anos da sua vida para esta formação. Poderá ler mais sobre o assunto na secção sobre Ayahuasca e Plantas. Para mais pormenores, os três livros disponíveis sobre a experiência pessoal de um xamã são esclarecedores. Os ensinamentos recebidos das plantas em sonhos ou intuições são apenas confirmados pelo maestro que supervisiona a dieta. As informações surgem quando o aprendiz está pronto a colocá-los em prática, quando o seu próprio corpo está preparado para metabolizar energias de pacientes.
Beber a planta sozinho seria como apanhar um autocarro sem condutor. Não é difícil aceder a um estado alterado de consciência. A grande questão é como voltar a si e controlar a abertura espiritual realizada de forma selvagem. Infelizmente, existem casos complicados de experiências mal resolvidas, com uma des-estruturação da personalidade e perturbações mentais graves.
É importante saber que nenhuma tribo indígena – as que trabalham com plantas há milhares de anos e não as que recentemente descobriram essa vocação – mistura várias plantas numa mesma cerimónia – coca, peyote, san pedro, marijuana. Cada planta tem o seu lugar. A mistura é simplesmente um indicador de incompetência, pois o facilitador não adquiriu os conhecimentos necessários nem as dietas, e não consegue alcançar efeitos de outra forma.
O verdadeiro Ayahuasquero não precisa de mais do que a Ayahuasca! E como em todas as terapias, a questão da ética, higiene pessoal, a todos os níveis, incluido o espiritual, reflecte-se no trabalho proposto aos pacientes e obtenção de resultados benéficos. Ninguém se lembraria de fazer uma operação ao coração com um cirurgião que tivesse feito cursos de fim de semana. Ninguém chama ao analista de psicoterapia um “facilitador do trabalho sobre a alma”. Tal como a medicina ocidental, a medicina indígena exige anos de esforço e paciência, treino e trabalho – interior como exterior – para obter um bom curandeiro.
Não existem atalhos para estas medicinas da alma, e as consequências espirituais de um trabalho incompetente são muito reais. É fácil constatá-lo em participantes que frequentaram sessões alternativas e problemas decorrentes com vários graus de gravidade e efeitos negativos na sua vida.
Todas estas medicinas devem ser respeitadas. Um trabalho mal feito põe em perigo os resultados excepcionais que se podem obter sobre patologias da alma prementes na nossa sociedade através de plantas ancestrais com propriedades psicotrópicas. Os acidentes poderiam mesmo fechar as portas de acesso a esta tecnologia biológica no mundo ocidental, o que seria lamentável.